“Aberrações futebolísticas” – Clássico Freakshow



Venhamos e convenhamos: 2011 foi um ano terrível para o futebol mineiro. Exceto pelo Tupi, que foi campeão da Série D em cima do Santa Cruz, e pelo Ipatinga, que conseguiu o acesso para a B, ninguém no estado teve muito o que comemorar – sobretudo os times que disputaram a primeira divisão. Todos passaram boa parte do campeonato lutando contra o descenso, sendo que o América já está matematicamente rebaixado, o Atlético escapou nos momentos finais e o Cruzeiro vai tentar se salvar na última partida, exatamente contra seu maior rival.

Em “homenagem” ao clássico do próximo domingo, o Jornalheiros Esporte Clube imaginou uma partida fictícia entre os piores jogadores de Cruzeiro e Atlético desde o ano 2000. Porém, como a lista de candidatos ficou muito grande, adotamos alguns critérios para montar as duas seleções (?). Assim, não relacionamos atletas que:

1. tenham atuado menos de 10 partidas por algum dos clubes (Cribari, Brandão, Nêgo, Tesser, Jorge Luiz...)
2. tenham sido convocado alguma vez na vida por qualquer seleção de ponta (Carini, César Prates e Catanha se livraram, mas Espinoza não)
3. tenham obtido destaque relevante em algum clube grande do Brasil ou da Europa (Danrlei, Amaral, Diego Souza, Élber, Rivaldo, Rincón, Edmundo...)
4. sejam o Lopes Tigrão ou o Adriano Chuva (escalar em um dos times seria "sacanagem" com o outro, porque ambos estão entre os piores de todos os tempos dos dois lados).

Confiram, a seguir, o clássico mineiro mais bizarro da história!

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Projeto original de Matheus Killer, Igor Dias Pinto e Danilo de Castro. Colaboraram Guilherme Pedrosa, Gabriel Gama e o pessoal do grupo “Momentos Épicos do Futebol” do Facebook.

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A falta de um estádio em Belo Horizonte complicou a vida dos três times da capital em 2011. Com o Mineirão em obras para a Copa de 2014 e o Independência em reformas, restou a eles mandarem seus jogos na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas. Porém, como será este o palco do clássico de amanhã, o amistoso entre os piores times de Cruzeiro e Atlético teve de ser transferido para o Castor Cifuentes, em Nova Lima.

Assim que os jogadores aparecem no (terrível) gramado, algo curioso acontece: para muitos deles, provavelmente era a primeira vez na carreira que entravam em campo sem receber vaias. Isso porque havia no máximo umas vinte pessoas no acanhado estádio do Villa Nova, mesmo contando os jornalistas, os vendedores de picolé e o zelador.

E, com a mais absoluta paz reinando nas arquibancadas, o juiz Márcio Eugênio Meira Wrong dá início à partida.

Como esperado, o jogo começa apertado, com direito a muitos erros de passe e verdadeiras demonstrações de futebol-arte no meio de campo. No caso dos cruzeirenses Bruno Quadros, Marabá, Leandro Bomfim e Bruno Soneca, arte abstrata; já para os atleticanos Walker, Rolete, Gedeon e Bilu, arte marcial – seja para brigar com os adversários ou com a bola.

Aos 20 minutos, o primeiro lance polêmico: Diego Macedo chegou à linha de fundo, cruzou e a bola passou longe de qualquer coisa no estádio, mas o juiz Wrong marcou pênalti de Jancarlos no atacante Galvão e deu cartão vermelho direto para o lateral cruzeirense. Na cobrança, Bilu fez 1x0.

A resposta celeste veio cinco minutos depois. Pelo lado direito do ataque, Wando – que, segundo seu empresário, era um “Robinho misturado com Garrincha melhorado” – driblou Calisto, olhou para a área e viu o zagueiro atleticano Nem sozinho contra dois adversários. No cruzamento, a bola passou por Robert e encontrou a cabeça do companheiro de Nem, Adriano. Também conhecido como Adriano Gol Contra. Este, fazendo jus ao apelido, empatou, sem chance para Edson.

Depois do gol, o técnico PC Gusmão pensou em fazer uma substituição para cobrir o espaço deixado pela expulsão de Jancarlos, mas, pensando bem, ele era tão ruim que, exceto pelo pênalti, sua ausência não estava fazendo a menor diferença.

O jogo permaneceu morno, quase esfriando, até os 37 minutos, quando Leandro Bomfim disputou uma bola com Jales. Só que a bola veio rasteira e Bomfim acertou o rosto do atacante alvinegro com o pé. No meio da confusão e do empurra-empurra, Walker ainda acertou uma voadora em Bomfim. Cartão vermelho para os dois.

Aos 42 minutos, o lateral-esquerdo Patrick tentou recuar uma bola para a defesa e errou o passe. Até aí, nada de anormal, porque Argel foi atrás para recuperar. Mas Gedeon acreditou no lance e correu, dando uma arrancada de trás do meio-campo. Argel, a três metros da bola, não conseguiu (!!!!!) acompanhar o camisa 10 do Galo, que invadiu a área. Na sequência, o goleiro Andrey saiu para fechar o ângulo, mas, ao ver o zagueiro Espinoza se aproximando, deixou a bola passar. O problema é que Espinoza ficou parado, deixando Gedeon livre para fazer 2x1.

A partida estava tão chata que a torcida nem reparou que o primeiro tempo tinha acabado e os times já estavam voltando para o segundo.

O Cruzeiro retornou com duas alterações: Elicarlos e Gerson Magrão no lugar de Wando e Patrick. Com o time precisando reagir, cada um ia jogar numa lateral, embora de fato atuassem no meio-campo. Vai entender...

Mas quem começou a etapa final com tudo foi o Atlético. Após horrorosa troca de passes entre Jales, Bilu e as canelas de Bruno Quadros e Marabá, a bola sobrou para Galvão na entrada da área. Ele viu que Argel e Espinoza cercavam, mas, como também não avançavam para lhe tomar a bola, resolveu chutar. De bico. Andrey também ficou indeciso sobre pular ou não e tomou um frangaço. 3x1.

Enquanto isso, PC Gusmão foi à loucura. Imaginava que alguma coisa precisava ser feita, mas não sabia o quê. É o tipo de coisa que acontece quando você olha pro banco e vê Alexandre Fávaro, Vítor, Eliézio, Fernando Miguel e Adriano Louzada.

Contudo, a reação celeste já começava a se desenhar. Gerson Magrão chutou de longe, Edson espalmou mal e a bola sobrou para o centroavante Robert dentro da pequena área. “Boa bola!”, berra o locutor. Mas não existe “boa bola” para Robert, já que ele faz questão de estragar todas. O chute saiu completamente torto, mas felizmente – para os poucos cruzeirenses que estavam acordados – bateu no peito do decisivo matador Adriano Gol Contra. 3x2.

Nisso, o técnico atleticano Lori Sandri resolveu anular as principais armas que os cruzeirenses tinham naquele momento, e substituiu as duas: Edson e Adriano. Juninho e Rancharia entraram em jogo.

Aos 29 do segundo tempo, o zagueiro Nem resolveu manter sua média de um pênalti e um cartão vermelho por partida, e derrubou o inofensivo Bruno Soneca dentro da área. Quem bateu foi o próprio camisa 10 cruzeirense, tido no começo da carreira como o substituto de Ronaldinho Gaúcho no Grêmio.

Mas, a essa altura, a torcida já nem tinha mais paciência para assistir tamanho futebol de várzea, de modo que todos já tinham ido embora quando Juninho defendeu a cobrança.

PC resolveu apelar e colocou Adriano Louzada no lugar de Bruno Soneca. Lori Sandri, por sua vez, ainda tinha Rafael Cruz, Leandro Smith, Genalvo e Nilson Sergipano, mas quem substituiu Jales foi o volante Ataliba.

Nenhuma das mudanças parecia surtir efeito até o lance mais emocionante (?) do duelo. O juiz Márcio Eugênio Meira Wrong prometeu jogo até os 46, mas, já aos 49, Elicarlos chutou de bico da meia-lua, a bola bateu na canela de Rancharia, ricocheteou no rosto de Marabá e voltou para a área. Juninho pulou para tentar tirar de soco, mas trombou com Ataliba no meio do caminho. Nisso, a bola desvia na bunda do impedido Adriano Louzada e morre no fundo das redes.

Então, com o placar empatado em 3x3 e as arquibancadas completamente vazias, termina o pior clássico da história do futebol mineiro. E que fique claro que esta é uma aberração futebolística tão grande que a equipe do Jornalheiros Esporte Clube deseja que JAMAIS aconteça de verdade.

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ATLÉTICO
Edson (Juninho); Diego Macedo, Nem, Adriano Gol Contra (Rancharia) e Calisto; Walker, Rolete, Gedeon e Bilu; Jales (Ataliba) e Galvão. Téc.: Lori Sandri.
Reservas não utilizados: Rafael Cruz, Leandro Smith, Genalvo e Nilson Sergipano.

CRUZEIRO
Andrey Cambalhota; Jancarlos, Argel, Espinoza e Patrick (Gerson Magrão); Bruno Quadros, Marabá, Leandro Bonfim e Bruno Soneca (Adriano Louzada); Wando (Elicarlos) e Robert. Téc.: PC Gusmão.
Reservas não utilizados: Alexandre Fávaro, Vítor, Eliézio e Fernando Miguel.

Gols: Bilu (20’ 1T), Adriano (GC 25’ 1T), Gedeon (42’ 1T), Galvão (7’ 2T), Adriano (GC 19’ 2T) e Adriano Louzada (49’ 2T).
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Mais macho que muito homem!

Os deuses do futebol que me perdoem se eu estiver falando bobagem – e provavelmente estou –, mas o desempenho recente da Seleção Brasileira de Futebol Feminino me lembra um pouco o da Associação Desportiva São Caetano no começo dos anos 2000. Calma, não estou cornetando ninguém. Ainda vou chegar nessa parte.

Voltando e refrescando a memória: o São Caetano, que hoje disputa a segundona do Brasileirão, é um clube do ABC paulista que assombrou todo mundo na primeira metade da década. O time podia não ser um esquadrão – e estava longe de ser –, mas era capaz de mandar muito clube grande pra casa – que o digam Fluminense, Palmeiras e Grêmio, eliminados na fase final da Copa João Havelange (campeonato nacional de 2000). Veio a decisão com o Vasco e... vice (confusão com o acidente no alambrado do estádio de São Januário à parte).

Em 2001, a melhor campanha da primeira fase, eliminou Bahia e Atlético-MG no mata-mata, enfrentou o Atlético-PR na final... e bi-vice.

Mesmo sem chegar ao título, as duas campanhas representavam um feito e tanto para o azulão, que se classificaram para a Libertadores duas vezes seguidas. Em 2001, foram eliminados pelo Palmeiras nas oitavas-de-final. Mas 2002 reservou a grande surpresa: primeiro lugar no grupo, despachou Universidad Católica, Peñarol e América do México, chegou à final contra o Olímpia, venceu o jogo de ida no Paraguai... e perdeu nos pênaltis no Pacaembu. Tri-vice.

Resumindo, o São Caetano era o time que jogava o melhor futebol do país, mas amarelava nas decisões. O que nos leva, novamente, às meninas do Brasil (não tô cornetando, mas tá quase).

Só que, no caso da Seleção Feminina, o segundo lugar não é um vexame tão grande. Quer dizer, continua sem nenhum título de expressão mundial, mas pra quem recebe pouquíssimo apoio dos dirigentes, da torcida e da imprensa, pra não falar em apoio financeiro, já é uma seleção de vencedoras só de ter chegado ali.

Mais merecedora de aplausos do que muito marmanjão da sub-20 e da principal (agora sim: FOOOOOOM!).

Venciam até os 42 do segundo tempo, até tomarem o gol de empate. Mas não desistiram, apesar das evidentes limitações físicas, e continuaram buscando o gol – ainda que à base de chutões para frente e apostar tudo em jogadas individuais.

Disputaram o Pan sem Marta e Cristiane, que são duas das melhores jogadoras do mundo, e fizeram o dever de casa. A Seleção Masculina, que tinha seus principais atletas à disposição no último torneio sério que disputou (a Copa América), fez um jogo sofrido atrás do outro e conseguiu ser eliminado pelo fraquíssimo Paraguai nos pênaltis, perdendo todas as cobranças.

E a lateral-direita Maurine, que perdeu o pai durante a competição e buscou a medalha de ouro até o fim, mostrou muito mais garra e vontade de vencer do que muito jogador da sub-20, que não conseguiram sequer passar de fase.

Sem falar que nenhuma atleta nossa usa penteado diferente e nem chuteiras coloridas. Vão para o campo para jogar futebol, não para se exibir.

Quer saber? Além de vencedoras, são mais macho que muito homem...
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“Crônica F.C.” – Rogério 1000

Se não me engano, foi Drummond quem falou que o deus do futebol é um sujeito irônico e farsante. No caso, Drummond se referia à mágica de Mané Garrincha, mas existem outras provas da interferência desse deus mesmo fora dos gramados.

No dia 7 de setembro de 1990, o São Paulo Futebol Clube contratou um jovem de 17 anos, vindo do Mato Grosso, para ser o quarto goleiro da equipe – tendo, à sua frente, Zetti e Gilmar Rinaldi. Mas o deus do futebol resolveu sorrir para o garoto.

Primeiro porque lhe deu paciência para aguardar sua chance, e, sete anos mais tarde, ele ganharia a posição de titular e, de brinde, recebeu sua primeira convocação para a seleção brasileira.

Segundo porque, se seus tiros de meta mal atingiam ao meio-de-campo quando chegou ao Morumbi, aprimorou seu chute a ponto de se tornar o cobrador oficial de faltas e pênaltis do time. Evoluiu tanto que se tornou o maior goleiro-artilheiro da história do futebol, com 103 gols marcados – mais do que muito jogador de linha por aí...

E terceiro porque, unindo suas habilidades com as mãos e com os pés, conquistou soberbos 23 títulos pelo São Paulo, a maior parte deles como capitão da equipe.

E o deus do futebol, como se quisesse dar outra prova de seus poderes, fez com que a milésima partida de Rogério Ceni com a camisa tricolor caísse exatamente no 21º aniversário de sua contratação.

Portanto, aos que forem acompanhar o duelo desta tarde entre São Paulo e Atlético, um aviso: guardem este jogo na memória. Podemos até ver outros goleiros marcando gols por aí, jogadores multicampeões, atletas que se tornam sinônimos de suas agremiações... mas tudo junto no mesmo pacote, e atuando em mil jogos pelo mesmo clube, dificilmente haverá outro.

Pelo menos até o deus do futebol resolver fazer outra de suas gracinhas.

“Rogério Ceni. No gol, na linha e na história do futebol mundial”.
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“Aberrações futebolísticas” – Foca em extinção

Atire a primeira corneta aquele que nunca se decepcionou com algum jogador das categorias de base que nunca se firmou no profissional.

E, para o caso de você ter atirado, lamento informar que seu time, seja ele qual for, já teve inúmeros atletas que arrebentavam como juvenis, mas, por um motivo ou outro, jamais renderam o esperado na equipe principal.

Tchô, Lenny, Lulinha, Fellype Gabriel, Bruno Mezenga, Daniel Lovinho, Alex Teixeira... a lista é interminável. E, essa semana, saiu uma notícia a respeito de mais um grande foguete molhado do futebol brasileiro. O que tem uma das histórias mais curiosas entre todos eles.

Tenho muitas lembranças de um jogo em especial desse atleta, no Mineirão, numa tarde de domingo. Aliás, meus novos companheiros de blog, Igor Dias Pinto e Danilo de Castro, também devem se lembrar bastante, porque no outro dia eu estava insuportável na faculdade...

São 34 minutos do segundo tempo, e, depois de muitas viradas, pênaltis e emoções, o Cruzeiro vence o Galo por 4x3. O time celeste, apesar da vantagem no placar, continua no ataque. O centroavante Roni, vigiado de perto pela defesa alvinegra, dá um passe lateral para Kerlon, livre na ponta direita. Ele, que havia saído do banco de reservas para desequilibrar o jogo ao lado de outro garoto de 19 anos, Guilherme, é imediatamente cercado por dois defensores, e ainda havia um terceiro na sobra. Pra se livrar deles e invadir a área, só usando a cabeça. No caso de Kerlon, literalmente.

Bola pro alto, e o jovem meia-atacante a controla na cabeça com uma habilidade de fazer inveja a uma foca de circo. São três toques numa corrida em direção à grande área, até a entrada assassina do lateral Coelho pôr fim à jogada. As duas torcidas fazem o Mineirão vir abaixo: a cruzeirense, de euforia; a atleticana, de raiva. Após um princípio de confusão, Coelho é expulso, e, com um jogador a menos, a reação alvinegra se torna mais difícil.


O lance rodou o mundo. A imprensa chamou de futebol-arte, zagueiros de todo o Brasil prometeram arregaçar Kerlon, inúmeros técnicos chamaram de menosprezo, e, em meio a tanta polêmica, aumentavam ainda mais os vídeos no Youtube apresentando “o próximo Ronaldinho”.

Pois bem: já se passaram quase quatro anos desde aquela tarde de setembro de 2007, e até hoje o “próximo Ronaldinho” não apareceu.

Não apareceu, em parte, por causa das seguidas contusões nos dois joelhos. Em 2008, enquanto se recuperava de uma delas, Kerlon seguiu as orientações de seu empresário, o italiano Mino Raiola, e deixou o Cruzeiro (pelas portas dos fundos, alegando que se achava em condições de ser titular desde sempre), rumo à Velha Bota.

Jogou quatro partidas pelo Chievo Verona e se machucou de novo. Mesmo assim, a Inter de Milão o contratou na temporada seguinte, repassando-o ao Ajax, da Holanda, para adquirir experiência. Não chegou a entrar em campo por nenhuma das duas equipes, graças a duas novas lesões.

No começo do ano, achei que Kerlon tinha chegado ao fundo do poço, amargando a reserva no Paraná Clube. Me enganei. Ele pediu dispensa seis meses depois, tendo jogado mais quatro partidas e não recuperando a forma física.

Certa vez, citei o caso do zagueiro Gladstone, que saiu da Juventus e foi parar no Náutico. Mas Kerlon foi ainda mais além. Do alto de seus 6 anos de carreira, com a “impressionante” marca de UM gol em 52 jogos, ele conseguiu a proeza de sair da Inter de Milão para o Nacional de Nova Serrana, que, recentemente, ganhou a segunda divisão do Campeonato Mineiro. Triste situação para um jovem de 23 anos que corre o risco de se aposentar prematuramente, vencido pelas contusões.

Seria cômico se não fosse trágico. Mas não deixa de ser uma aberração futebolística.
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Ensaio sobre a hora do adeus

Dentro de um estádio de futebol, boa parte da beleza do espetáculo vem do público. Não era diferente naquela ocasião. No Engenhão abarrotado de gente, todos cantam, todos incentivam, todos enaltecem o grande responsável pela festa: um astro de renome internacional, acostumado desde sempre a apresentar seu talento diante de plateias gigantescas.

O astro, por sua vez, retribui com demonstrações generosas de seu talento. Tudo o que ele faz dentro daquela estádio é para os fãs, não para si próprio. Cada parte do repertório faz com que todos se levantem de seus assentos, e, ao se levantarem, mais os fãs têm certeza de que estão diante de um verdadeiro showman.

A festa é tão grande que ninguém parece se lembrar que aquela apresentação é uma das últimas da carreira do nosso protagonista. Ele ainda está numa forma incrível – melhor até do que a de seus companheiros, que, diga-se de passagem, estão longe de serem ruins –, mas a idade avançada o obriga a se aposentar em breve. Exatamente por isso, tanto o público quanto o astro tentam tirar o maior proveito possível daquele evento. Em breve, eles ficarão apenas na lembrança. Ou nos DVDs.

Ok, confesso: não estou falando da partida de despedida de algum jogador específico, mas do último show em solo brasileiro de um ilustre torcedor inglês do Everton chamado Paul McCartney (show, aliás, que eu e meu nobre amigo Guilherme Pedrosa estávamos combinando de ir desde 2008 e não passamos nem perto). Mas essa descrição também cabe perfeitamente à última partida de Petković, disputada nas mesmas condições poucas semanas depois. O sentimento de quem esteve lá era idêntico.

A questão é: nós, fãs, temos o hábito de cultivar a ilusão de que nossos ídolos estarão lá pra sempre. Poucos são os que se preparam para vê-los saindo de cena. E nenhum admite a hipótese de relegar a contribuição dele para a história de seu clube ou seleção ao esquecimento.

Sábado, foi o Pet. Semanas antes, de uma tacada só, o Manchester United viu Van der Sar, Gary Neville e Paul Scholes pendurarem as chuteiras. Ano retrasado, Maldini, no Milan. E, antes deles, gênios do quilate de Zidane, Figo, Nedved e Romário, entre inúmeros outros.

Aliás, enquanto finalizo estas linhas, começa a despedida de mais um: Ronaldo Fenômeno.

E nós que nos preparemos: daqui a pouco vai chegar a hora da aposentadoria de mitos como Rivaldo, Roberto Carlos, Marcos, Rogério Ceni, Alex, Ronaldinho Gaúcho, Henry, Beckham, Giggs, Raúl, Buffon...

E, claro, o Paul McCartney.
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“Crônica F.C.” – Toda soberba foi penalizada (te cuida, Santos!)

(Colaboração de Igor Dias Pinto)

Nota inicial: foi a conta de eu abrir o Word pra redigir um post sobre a tragédia brasileira na Libertadores e ver um e-mail do meu brother Igor Dias Pinto com o texto pronto. Tenho o prazer de publicar algo que certamente resumiria uma de nossas possíveis conversas nos corredores da faculdade, se fosse há alguns semestres atrás. Espero que vocês gostem.

Entra ano, sai ano, e todos os clubes brasileiros são favoritos à conquista da América. As torcidas acreditam piamente que os times daqui são melhores do que os times de qualquer outro país sul-americano e do México. Não há nada de mal nisso – afinal de contas, o papel do torcedor é acreditar sempre, e, mesmo sem conhecer os futuros adversários estrangeiros, continuamos nos considerando os melhores.

O problema desta presunção é quando os atletas têm a mesma consciência de seus torcedores e, diante da oportunidade de liquidarem determinada partida, como aconteceu na primeira rodada das oitavas de final da Libertadores – principalmente com Internacional e Cruzeiro –, não perpetram.

As eliminações desses dois, aliás, certamente protagonizaram as maiores decepções. Ambos deram seus adversários como mortos diante dos bons resultados conquistados em território inimigo e mesclaram displicência e nervosismo durante partes de seus embates de volta.

Nos casos de Fluminense e Grêmio, a situação era bem diferente. O time gaúcho, carente em criatividade no meio campo, qualidade nos avanços pelo lado esquerdo e na marcação pelo direito, perdeu em casa e sua eliminação não assusta. O Tricolor carioca é outro que não iludiu seu torcedor, apenas adiou o sofrimento. Classificou-se para as oitavas heroicamente, após o fraco desempenho na primeira fase, e no mata-mata não demonstrou força. O placar conquistado no Rio de Janeiro contra o Libertad não representou a verdade do jogo que foi restabelecida no confronto de Assunção.

Até o talentoso Santos, único brasileiro “sobrevivente” desta edição da Libertadores, sofreu para eliminar o América mexicano. A fórmula mágica de Muricy Ramalho tão falada após o clássico San-São, não deu certo na América do Norte e os meninos da Vila têm que agradecer ao contestado goleiro Rafael pela classificação.

Diante da melancólica apresentação nacional, temos que repensar o favoritismo brasileiro. Nossos times são melhores POR QUÊ? Revelamos tantos bons jogadores quanto os outros nove países que possuem representantes no torneio. Digo “bons”, porque “craques”, aqueles capazes de conquistarem títulos carregando o time às costas, são poucos.

Temos vantagens claras, a moeda forte e a profissionalização futebolística que, principalmente nos últimos cinco anos, foi responsável pelo repatriamento de vários bons jogadores, e alguns ex-craques, que haviam deixado o país para ganhar a vida na Europa, no Japão e no Oriente Médio, como Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Adriano, Rivaldo, entre outros.

Mas existe um fato que pesa e muito, muito contra nós, brasileiros. Os hispânicos mantêm um constante e saudável intercâmbio de jogadores, haja vista que os grandes craques do futebol brasileiro dos últimos anos, Conca e Montillo, vieram jogar no Brasil após se destacarem no futebol chileno, e tal relação se repete em vários outros times do Paraguai, Peru, Uruguai e Argentina.

Os grandes times do Boca Juniors eram recheado de paraguaios e colombianos, a Liga Deportiva Universitária, do Equador, no seu ano de glória, 2008, possuía em seu elenco, três argentinos, Norberto Araujo, Claudio Bieler e Damián Manso, o craque do time, além do paraguaio Enrique Vera. Outro exemplo é o caso do argentino Juan Manuel Iturbe, cujo primeiro clube foi o Cerro Porteño. O atleta foi recentemente vendido ao Porto, de Portugal, dando um ótimo retorno financeiro aos paraguaios.

Esta explanação não é uma apologia à importação de jogadores, mas sim uma luz a clarear a visão dos times do Brasil com relação ao futebol jogado nos países fronteiriços. Reitero: não se trata apenas de encher os clubes brasileiros de sul-americanos, mas sim de fazer contratos com jogadores de destaques em suas equipes quando ainda estão nas categorias de base – e aí sim, com maior poder de compra, sermos realmente os conquistadores da América.
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"Crônica F.C" – O terror dos matemáticos

Se Nelson Rodrigues estivesse vivo, provavelmente não teria ficado nem um pouco surpreso ao ver seu Fluminense vencer o Argentinos Juniors fora de casa. Quer dizer, certamente estaria eufórico – com todos os motivos do mundo, diga-se –, certamente nos brindaria com mais uma análise soberba da partida, mas, surpreso, não. Afinal, foi ele quem disse que as partidas do Fluminense são cardíacas, que "vão da extrema falta de perspectiva, do máximo sofrimento, da crueldade, ao êxtase, ao épico, ao apoteótico. Tudo junto, quase sem fronteiras entre esses opostos".

E ontem, de uma nuvem acima do Estádio Diego Armando Maradona, Nelson Rodrigues assistiu ao jogo e viu como tinha razão.

Creio que existam tantos matemáticos no meio do futebol quanto torcedores. Mesmo porque são muitos os que torcem fazendo a conta de quantos minutos faltam, quantos pontos são necessários, qual a probabilidade de acontecer isto ou aquilo...

Digo isso porque, para falar dessa vitória do Fluminense, é necessário falar em números.

Avançados 43 minutos do segundo tempo.

Esperançosos 1500 torcedores que viajaram à Argentina.

Míseros 8% de chance de classificação.

Desesperados quatro atacantes em campo.

E um único gol que acabaria com todo o sofrimento.

No meio de tanta bagunça entre números e emoções, estatísticas e angústias, um tricolor invade a área e é derrubado pelo goleiro. Não importava que quem sofreu o pênalti sequer fosse um dos atacantes, mas o volante (quase zagueiro) Edinho. Importava era a oportunidade de acabar com tudo de uma vez.

"Era a hora", proferiram Conca e Marquinho.

"Você é um abençoado", disse Rafael Moura ao batedor.

E Fred, com a categoria e o poder de decisão imprescindíveis a quem carrega o número 9 às costas, chutou a bola no ângulo, lembrando ao Brasil inteiro que, enquanto houver um mínimo de probabilidade, o Fluminense não desiste.

E aqueles que achavam impossível escapar dos 98% de chance de rebaixamento, aqueles que decretaram que se classificar para as oitavas de final da Libertadores era como um raio cair três vezes no mesmo lugar, talvez digam que a vitória de ontem não garante nada, que não significa que o Fluminense será campeão. Talvez tenham alguma razão. Mas, que além dessa razão, que tenham uma certeza: a de que não adianta ver os jogos do Tricolor de calculadora na mão. Esse time não redime nenhuma estatística. Os matemáticos não botam medo no Fluminense. O Fluminense é que é o terror dos matemáticos.
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14 milésimos de segundo


13 de Abril de 1986. Senna, pilotando o Lotus98T-Renault, venceu seu 3º Grande Prêmio na Fórmula 1. Essa vitória seria apenas mais uma na sua carreira, mas ficou marcada pelo final emocionante, quando o Brasileiro e Nigel Mansell protagonizaram uma chegada digna de turfe.

É comum no fim das corridas, os pilotos líderes tirarem o pé na reta da linha da bandeirada final, tudo isso porque os vitoriosos chegam com uma folga que não foi vista no Grande Prêmio da Espanha, há exatos 25 anos atrás.

Senna havia feito sua 9ª Pole Position, ficando na frente das Williams-Honda de Piquet e Mansell, na largada. Essa pole marcou a 100ª na história da escuderia de Colin Chapman.

Senna possuía um carro que consumia 8% a mais de combustível, do que o motor Honda das Williams, e, com habilidade, conseguiu segurar a pressão imposta pela dupla Piquet/Mansell, pelo menos até a 40ª volta. Neste momento Senna era ultrapassado por Mansell, mas sofria um alento, com a notícia do abandono de Piquet.

A insistência de Senna em assumir a ponta foi atendida na 64ª volta. Numa manobra arriscada, Senna ultrapassa o inglês. Chega a abrir uma vantagem de 27 segundos.

Mansell, desestabilizado, cedeu o 2º lugar para Prost, e decidiu arriscar para continuar na luta. Foi aos boxes e colocou um jogo de pneus novos, com durabilidade reduzida. Voltou pra pista e retomou ao 2º lugar faltando poucas voltas para o fim. Até o final da corrida, Senna e Mansell travaram um duelo memorável, com Senna tendo que manobrar o carro para impedir a ultrapassagem do poderoso Williams do rival.

A última volta do circuito foi acompanhada com olhos vidrados nos carros de Senna e Mansell. A estréia da pista na Fórmula Um recebeu de presente uma chegada dramática, com o Lotus e o Williams emparelhados, após Mansell aproveitar o vácuo de Ayrton. Ao fim da corrida, não se podia dizer quem venceu (a não ser Galvão Bueno, que dotado de um olho de águia, cravou que Senna havia ganhado por meio carro de diferença). Depois de um tira-teima, Senna foi o condecorado.

Foi a chegada mais apertada depois do GP de Monza em 1971.A vitória veio com 14 milésimos de segundos, ou com 93 centímetros de diferença. Sorte para Ayrton, que a linha de chegada escolheu o preto e dourado da Lotus-Renault.





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