quinta-feira, 21 de abril de 2011

"Crônica F.C" – O terror dos matemáticos

Se Nelson Rodrigues estivesse vivo, provavelmente não teria ficado nem um pouco surpreso ao ver seu Fluminense vencer o Argentinos Juniors fora de casa. Quer dizer, certamente estaria eufórico – com todos os motivos do mundo, diga-se –, certamente nos brindaria com mais uma análise soberba da partida, mas, surpreso, não. Afinal, foi ele quem disse que as partidas do Fluminense são cardíacas, que "vão da extrema falta de perspectiva, do máximo sofrimento, da crueldade, ao êxtase, ao épico, ao apoteótico. Tudo junto, quase sem fronteiras entre esses opostos".

E ontem, de uma nuvem acima do Estádio Diego Armando Maradona, Nelson Rodrigues assistiu ao jogo e viu como tinha razão.

Creio que existam tantos matemáticos no meio do futebol quanto torcedores. Mesmo porque são muitos os que torcem fazendo a conta de quantos minutos faltam, quantos pontos são necessários, qual a probabilidade de acontecer isto ou aquilo...

Digo isso porque, para falar dessa vitória do Fluminense, é necessário falar em números.

Avançados 43 minutos do segundo tempo.

Esperançosos 1500 torcedores que viajaram à Argentina.

Míseros 8% de chance de classificação.

Desesperados quatro atacantes em campo.

E um único gol que acabaria com todo o sofrimento.

No meio de tanta bagunça entre números e emoções, estatísticas e angústias, um tricolor invade a área e é derrubado pelo goleiro. Não importava que quem sofreu o pênalti sequer fosse um dos atacantes, mas o volante (quase zagueiro) Edinho. Importava era a oportunidade de acabar com tudo de uma vez.

"Era a hora", proferiram Conca e Marquinho.

"Você é um abençoado", disse Rafael Moura ao batedor.

E Fred, com a categoria e o poder de decisão imprescindíveis a quem carrega o número 9 às costas, chutou a bola no ângulo, lembrando ao Brasil inteiro que, enquanto houver um mínimo de probabilidade, o Fluminense não desiste.

E aqueles que achavam impossível escapar dos 98% de chance de rebaixamento, aqueles que decretaram que se classificar para as oitavas de final da Libertadores era como um raio cair três vezes no mesmo lugar, talvez digam que a vitória de ontem não garante nada, que não significa que o Fluminense será campeão. Talvez tenham alguma razão. Mas, que além dessa razão, que tenham uma certeza: a de que não adianta ver os jogos do Tricolor de calculadora na mão. Esse time não redime nenhuma estatística. Os matemáticos não botam medo no Fluminense. O Fluminense é que é o terror dos matemáticos.

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