sexta-feira, 22 de julho de 2011

“Aberrações futebolísticas” – Foca em extinção

Atire a primeira corneta aquele que nunca se decepcionou com algum jogador das categorias de base que nunca se firmou no profissional.

E, para o caso de você ter atirado, lamento informar que seu time, seja ele qual for, já teve inúmeros atletas que arrebentavam como juvenis, mas, por um motivo ou outro, jamais renderam o esperado na equipe principal.

Tchô, Lenny, Lulinha, Fellype Gabriel, Bruno Mezenga, Daniel Lovinho, Alex Teixeira... a lista é interminável. E, essa semana, saiu uma notícia a respeito de mais um grande foguete molhado do futebol brasileiro. O que tem uma das histórias mais curiosas entre todos eles.

Tenho muitas lembranças de um jogo em especial desse atleta, no Mineirão, numa tarde de domingo. Aliás, meus novos companheiros de blog, Igor Dias Pinto e Danilo de Castro, também devem se lembrar bastante, porque no outro dia eu estava insuportável na faculdade...

São 34 minutos do segundo tempo, e, depois de muitas viradas, pênaltis e emoções, o Cruzeiro vence o Galo por 4x3. O time celeste, apesar da vantagem no placar, continua no ataque. O centroavante Roni, vigiado de perto pela defesa alvinegra, dá um passe lateral para Kerlon, livre na ponta direita. Ele, que havia saído do banco de reservas para desequilibrar o jogo ao lado de outro garoto de 19 anos, Guilherme, é imediatamente cercado por dois defensores, e ainda havia um terceiro na sobra. Pra se livrar deles e invadir a área, só usando a cabeça. No caso de Kerlon, literalmente.

Bola pro alto, e o jovem meia-atacante a controla na cabeça com uma habilidade de fazer inveja a uma foca de circo. São três toques numa corrida em direção à grande área, até a entrada assassina do lateral Coelho pôr fim à jogada. As duas torcidas fazem o Mineirão vir abaixo: a cruzeirense, de euforia; a atleticana, de raiva. Após um princípio de confusão, Coelho é expulso, e, com um jogador a menos, a reação alvinegra se torna mais difícil.


O lance rodou o mundo. A imprensa chamou de futebol-arte, zagueiros de todo o Brasil prometeram arregaçar Kerlon, inúmeros técnicos chamaram de menosprezo, e, em meio a tanta polêmica, aumentavam ainda mais os vídeos no Youtube apresentando “o próximo Ronaldinho”.

Pois bem: já se passaram quase quatro anos desde aquela tarde de setembro de 2007, e até hoje o “próximo Ronaldinho” não apareceu.

Não apareceu, em parte, por causa das seguidas contusões nos dois joelhos. Em 2008, enquanto se recuperava de uma delas, Kerlon seguiu as orientações de seu empresário, o italiano Mino Raiola, e deixou o Cruzeiro (pelas portas dos fundos, alegando que se achava em condições de ser titular desde sempre), rumo à Velha Bota.

Jogou quatro partidas pelo Chievo Verona e se machucou de novo. Mesmo assim, a Inter de Milão o contratou na temporada seguinte, repassando-o ao Ajax, da Holanda, para adquirir experiência. Não chegou a entrar em campo por nenhuma das duas equipes, graças a duas novas lesões.

No começo do ano, achei que Kerlon tinha chegado ao fundo do poço, amargando a reserva no Paraná Clube. Me enganei. Ele pediu dispensa seis meses depois, tendo jogado mais quatro partidas e não recuperando a forma física.

Certa vez, citei o caso do zagueiro Gladstone, que saiu da Juventus e foi parar no Náutico. Mas Kerlon foi ainda mais além. Do alto de seus 6 anos de carreira, com a “impressionante” marca de UM gol em 52 jogos, ele conseguiu a proeza de sair da Inter de Milão para o Nacional de Nova Serrana, que, recentemente, ganhou a segunda divisão do Campeonato Mineiro. Triste situação para um jovem de 23 anos que corre o risco de se aposentar prematuramente, vencido pelas contusões.

Seria cômico se não fosse trágico. Mas não deixa de ser uma aberração futebolística.

2 comentários:

Danilo de Castro disse...

Coisas que acontecem no mundo do futebol... Aspirantes a craque que não dão em nada e aspirantes a nada que continuam firmes no futebol... (Jael no Flamengo, Fábio Jr. no América, Marcelo Nicácio no Ceará...)

24 de julho de 2011 às 13:23
dan disse...

o kerlon nao é foguete molhado por incompetencia, mas sim por causa de suas inumeras lesoes, tanto musculares quanto no joelho, que por sinal deve ter mais objetos cirurgicos do que orgaos naturais mesmo ...

24 de julho de 2011 às 20:46

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