quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

“Crônica F.C.” – A última queda do Fenômeno

Já cansei de usar esse espaço para fazer desabafos e reclamações, meio que ignorando as distinções entre jornalista e torcedor. Mas hoje eu não estou “meio” que ignorando, estou ignorando completamente. O que eu vou postar a seguir é um depoimento pessoal em homenagem a um dos melhores centroavantes que o mundo já viu. Não como jornalista, não como torcedor, mas como fã.

Não sei quanto a você que está lendo o texto, mas eu me lembro muito bem do dia 12 de julho de 1998. Eu tinha nove anos e meio de idade e, naquela tarde de domingo, minha família foi a última a chegar à casa da minha avó para assistir à final da Copa do Mundo. Lembro que levei uma pequena mala comigo – era a primeira vez que ia dormir fora de casa sem meus pais.

A camisa número 10 do Raí em 1994 – e que eu usei em todos os jogos de 1998 – podia dizer o contrário, mas, até a Copa da França, eu não gostava de futebol. Quer dizer, tinha sei lá quantas camisas do Cruzeiro (raríssimas numa família de atleticanos como a minha), tive um amigo invisível chamado Ronaldinho quando menor, mas não gostava de futebol. Mas foi só ver aquele tanto de gente vestindo amarelo na frente da TV, incentivando aquele camisa 9 de cabeça raspada a destruir as defesas adversárias, que eu não demorei a mudar de ideia. Tanto não demorei que não vi metade dos gols do Brasil na primeira fase. Eu assistia ao primeiro tempo e, no segundo, ia jogar bola na varanda com um primo.

Bem, voltemos ao 12 de julho. Não jogamos bola por dois motivos: primeiro porque a varanda estava cheia de mesas com salgadinhos e segundo porque o Zidane não deixou a gente desgrudar os olhos da TV. Os dois gols dele fizeram os salgadinhos esfriar. O do Petit fez todo mundo perder a fome.

Assim que o jogo acabou, enquanto ouvia o estouro dos balões mais triste da minha vida, caminhei pro banheiro e passei uns longos dez minutos chorando. Não podia acreditar que o melhor jogador da seleção tinha passado mal. Não conseguia entender como era possível que o Brasil perdesse. Fiquei tão abatido que perdi a vontade de dormir na casa da minha avó, preferi voltar pra casa. Mas nem no meu quarto eu dormi direito.

E eu, que sequer gostava de futebol há pouco mais de um mês antes daquela tarde infeliz, coloquei na minha cabeça que seria o camisa 10 da seleção na Copa de 2010. Teria 21 anos, a mesma idade do Ronaldinho em 98, e daria o passe pra ele marcar o gol da vitória em um jogo contra a França. Queria me vingar do Zidane. Guardei raiva dele durante anos.

Pois bem. Treze anos e muitas doses de realidade depois disso, aqui estamos. Só evoquei uma das minhas lembranças mais tristes porque minha noite de domingo foi tão ruim quanto aquela. Meu herói de infância, que teve a carreira dada por encerrada três vezes depois daquela final, dessa vez não vai ressurgir das cinzas. Vai demorar muito tempo pra cair a ficha de que não vou vê-lo mais em atividade.

Dói chamar Ronaldo de ex-jogador. E, pior do que isso, não foi a aposentadoria que o Fenômeno merecia. Não havia necessidade de passar vergonha tentando enaltecer o final da carreira, e nem de alimentar o sonho de ganhar a Libertadores. Ronaldo já não precisava provar nada a ninguém. Fora decisivo em todos os clubes onde jogou. Ressuscitou para o futebol mais vezes do que podemos acreditar. Todo o carinho que demonstrou pela bola foi recíproco.



Diferentemente de 1998, agora eu consigo enxergar os lados positivos da situação. Se daquela vez Ronaldo saiu de cena derrotado por Zidane, a figura que fica agora é a de um grande vencedor. O homem que entra para a história não é o centroavante fora de forma que levou a culpa pela eliminação do Corinthians na Libertadores, e sim o jogador que encantou o Brasil e o mundo com gols espetaculares.

Gordo, magro, careca, cabeludo, pegando mulher, pegando traveco... nada disso importa. Nada disso apaga a imagem que se perpetuou na mitologia futebolística.

Porque daqui a uns 15 anos, quando eu tiver um filho com idade para aprender a gostar de futebol, ele certamente vai me perguntar quem foi o melhor que eu vi jogar.

— Ah, tem o Ronaldo...
— Ronaldo? Acho que já ouvi falar... que jogador era esse, pai?
— Jogador? Era mais do que isso, filho. Era um Fenômeno.

2 comentários:

Gabriel Gama disse...

História interessante, Killer!!

Ronaldo foi um dos maiores centroavantes de todos os tempos. É inegável que sua falta será muito sentida para o esporte... =//

Mas, por todo o histórico de lesões crônicas, sobrepeso, falta de mobilidade e condicionamento fisíco, estava na hora mesmo de parar (embora com 34, ainda dá para jogar mais).

Talvez, poderia ter encerrado a gloriosa carreira no final do ano passado, todavia, por questões de contratos publicitários, direitos de imagem e afins, a retirada não poderia ser tão fácil e simples assim.

De fato, o anúncio de sua aposentadoria foi bem surpreendente. Mas, como está bem esclarecido no post, não será o Ronaldo desregrado ou o que jamais venceu uma Libertadores ou um Brasileiro que será recordado. Dos odiados até os fãs de "carteirinha", o Fenômeno vai ser sempre lembrado como a personificação da superação e perseverança. Como o melhor jogador do mundo e o conquistador do planeta.

18 de fevereiro de 2011 às 22:51
Vovó Hermínia disse...

Muito boa a história mesmo. Concordo com cada palavra sobre sobre o segundo melhor jogador que eu vi jogar, infelizmente o primeiro estava do outro lado em 98. Ótimo post.

23 de fevereiro de 2011 às 16:37

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