domingo, 20 de março de 2011

Ensaio sobre um toque de mágica

Quando você é um aficionado por futebol, sempre vai existir aquele momento especial do qual você se lembrará eternamente. Pode ser um gol, uma jogada bonita, um episódio polêmico... enfim, algo que deixou marcas profundas, sejam elas positivas ou negativas.

O lance marcante da minha vida foi visto pela TV, numa quarta-feira à noite em que eu tinha acabado de voltar do curso de inglês. Embora tenha visto a partida ao vivo, até hoje fico admirado ao ver o tal lance. Aliás, antes de escrever este post, revi o vídeo relacionado lá embaixo mais vezes do que conseguiria contar, e, em todas as vezes, o máximo que pude fazer foi me surpreender com tamanha obra de arte.

Confesso que faz alguns meses desde que pensei em escrever sobre este gol, mas, por motivos de força maior, acabei adiando a publicação para a data de hoje. Por uma incrível e feliz coincidência, o gol aconteceu exatamente nesta data.

Foi num jogo entre São Paulo e Palmeiras, válido pelo torneio Rio-São Paulo. O Palmeiras venceu por 4x2, e, posso dizer, foi uma partidaça. Do lado tricolor, estavam Rogério Ceni, Maldonado, Luís Fabiano, França e um certo Kaká, recém-promovido das categorias de base. Pelo lado alviverde, monstros sagrados como Marcos, Alex, Arce...

Pois bem, vamos ao dia 20 de março de 2002. Aos 27 minutos do primeiro tempo, o Palmeiras já vencia o São Paulo por 2x0 e não dava a menor impressão de que ia tirar o pé do acelerador. A mágica começou em um ataque palmeirense pela direita. Numa rápida troca de passes, o legendário lateral alviverde Arce lança Magrão, que encontra Christian desmarcado na intermediária. Christian não hesita em tocar de primeira para um jogador que parte como um relâmpago em direção à área são-paulina, apesar de dois zagueiros tricolores estarem atentos ao lance.

A bola ainda nem havia chegado ao seu destino e o defensor Emerson já se preparava para interceptar o jogador que recebeu o passe, aguardando o momento exato para dar o bote – no caso, o armador Alex. Se o camisa 10 palestrino tentasse passar pela esquerda, Emerson o desarmaria com facilidade; se tentasse passar pela direita, havia outro zagueiro na sobra; se tentasse passar no meio dos dois, seria louco. Mas o número 10 costuma ser entregue a jogadores diferenciados, e, como tal, Alex conseguiu enxergar uma saída.

Por cima.

Bastou um único toque para que a bola encobrisse Emerson, num chapéu tão desconcertante que, quando o zagueiro se virou, Alex já estava cara a cara com Rogério Ceni. Rogério, que meses mais tarde seria o terceiro goleiro da seleção campeã do mundo, abandonou a meta desesperado. Já havia sofrido dois gols em menos de meia hora, e, se sofresse o terceiro, poderia eliminar qualquer possibilidade de o São Paulo reagir. Ele esperou a bola quicar, avançou sobre Alex, e... veio outro chapéu.

O toque sutil para o gol, sem deixar a bola cair, foi a assinatura perfeita para uma das maiores obras de arte que o Morumbi já viu, um verdadeiro patrimônio futebolístico da humanidade. Um gol de craque, um gol de placa, um gol de outdoor – como esse que a torcida palmeirense colocou na frente do CT do São Paulo no dia seguinte. Alex precisou de quatro segundos e três toques na bola para construir esse monumento no gramado.

E eu, na minha condição de espectador da partida pela TV, só me lembro de sentir uma mistura de fascínio e raiva quando assisti a este lance. Fascínio porque foi algo tão maravilhoso que, quando me dei conta, estava comemorando um gol de um time que não era o meu. E raiva porque o autor da tal maravilha esteve no meu time de verdade seis meses antes, sem demonstrar a metade da genialidade presente neste lance.

Pra minha sorte, pouco depois ele voltou ao Cruzeiro e me deu motivos de sobra – e põe sobra nisso – pra esquecer essa raiva.

Obrigado, Alex.

Não só por 2003, mas por me ter feito gostar ainda mais de futebol.

Com vocês, o golaço:

1 comentários:

Gabriel Gama disse...

Este gol foi sensacional!

Um dos mais bonitos que já vi! Vale salientar que Alex tem o dom em fazer golaços. Lembram daquele contra o Fluminense pelo Brasileirão de 2003? E não podemos esquecer daquela letra contra o Flamengo na final da Copa do Brasil do mesmo ano. É um dos maiores camisas 10 que já vi jogar... E está entre os 10 mais importantes da história do Cruzeiro.

Belo post, Matheus.

22 de março de 2011 às 17:40

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