sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Não é pra qualquer um - Não é coincidência. Splitter tem sorte

Quem gosta de basquete no Brasil, sofre. Seja pela dificuldade de se praticar, pelo ainda minúsculo espaço que o esporte tem na mídia, seja pela carência de bons jogadores nascidos por aqui. Não é como futebol, onde estamos acostumados com levas de jogadores talentosos sendo formadas todos os anos e chamando a atenção de todo o mundo. O nosso basquete ainda não é assim.

Por todas essas razões, é completamente compreensível que nós brasileiros fiquemos frustrados com a opção do treinador Gregg Popovich, do San Antonio Spurs, em não dar muito tempo de quadra ao nosso compatriota, o pivô Tiago Splitter. Para muitos, até o ano passado, ele era o melhor jogador do planeta fora da NBA. Já jogando no basquete europeu antes mesmo de completar a maioridade, Splitter tem uma extensa lista de premiações e conquistas no basquete do Velho Continente. Incontestável. O Spurs que o diga.

Na Draft da NBA de 2007, a franquia do Texas selecionou Splitter, na 28ª escolha. Contudo, o atleta optou por continuar no basquete espanhol, por uma situação financeira mais atraente. Nada mais justo. Os direitos do atleta na NBA continuariam vinculados ao Spurs.

No meio de 2010, ao fim da temporada européia, Splitter decidiu atravessar o Atlântico e dar início à sua caminhada na NBA. Logo após ser escolhido o MVP da temporada regular espanhola e também MVP das finais do torneio, do qual sua equipe, o Caja Laboral, foi campeã. Era hora de aceitar o desafio do melhor basquete do mundo. Mas ninguém falou que seria fácil.

Na atual temporada, tempo de quadra se tornou algo raríssimo para o catarinense, o que é, no mínimo, estranho, pois nas vezes em que teve chance de jogar, ele não decepcionou, como quando jogou 26 minutos contra o Cavaliers e anotou 18 pontos, pegou cinco rebotes e deu dois tocos. No jogo seguinte, contra Orlando, ele ficou menos de um minuto em quadra. Em 11 dos 39 jogos do time na temporada, Splitter sequer deixou o banco de reservas. Não apenas nós brasileiros, mas a própria torcida do time nos EUA contesta o trabalho que Popovich faz com Splitter. O treinador quer cautela. É seu jeito de trabalhar.

Mas por que raios fazer isso?!

Apesar de não entendermos imediatamente a “política Popovich”, é inegável que ela teve resultados. Em 2001, o técnico optou por investir na contratação de Bruce Bowen, um atleta que começou a carreira com 25 anos e não havia se firmado em time algum da NBA. Sob o comando de Popovich, ele foi escolhido em oito temporadas para o time dos melhores defensores da NBA, sendo considerado por muitos um dos melhores defensores que a NBA já viu.

Dois outros casos são emblemáticos. Na 57ª escolha do Draft de 1999, o Spurs selecionou o argentino Manu Ginóbili. Como Splitter, o hermano passou mais alguns anos na Europa para depois jogar na NBA. Os primeiros meses de Ginóbili na NBA foram, assim como os de Splitter, de poucos e irregulares minutos de quadra. Com o decorrer daquela temporada, Ginóbili foi ganhando confiança e pôde ver seus minutos aumentando. Nas temporadas seguintes, ele conseguiu se tornar um dos melhores jogadores da liga e também do mundo, carregando a Argentina ao ouro olímpico em 2004.

Bowen, Duncan, Parker e Ginóbili, que levaram o Spurs a três títulos nesta última década.

O outro caso, apesar de diferente do de Splitter, é também uma demonstração da competência das escolhas de Popovich. É o armador francês Tony Parker, um “achado” no Draft de 2001, selecionado na 28ª escolha. Por uma escassez de armadores de qualidade na equipe daquela temporada, Parker, mesmo aos 19 anos, conseguiu ser titular em quase todos os jogos da temporada. Assim como os dois anteriores, Parker também se tornou uma estrela muito maior do que a sua posição de escolha no Draft (ou até mesmo a falta de um Draft, no caso de Bowen) poderia prever.

Escolhidos mais recentemente, DeJuan Blair e George Hill, 37ª e 26ª escolhas em seus Drafts respectivamente, vêm mostrando que têm tudo para engrossar a lista de “achados” de Gregg Popovich.

Durante esta temporada, provavelmente não entenderemos as escolhas de Popovich a respeito de Splitter. Afinal, só estando dentro do grupo do Spurs, viajando por todo o país, treinando todos os dias e jogando várias vezes por semana para se ter a certeza dos motivos do treinador. Porém, podemos ter a certeza de que nosso pivô está nas mãos daquele que demonstrou uma capacidade altamente incomum de enxergar o talento em um jogador de basquete e de viabilizar o sucesso desse jogador. Com Splitter não foi diferente e esperamos que o futuro dele na NBA também não seja.

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