sábado, 23 de outubro de 2010

J.E.C. Entrevista - Gabriel Leão

A coluna “Não é pra qualquer um” desta semana traz a primeira entrevista da história do J.E.C. e inaugura o marcador “J.E.C. Entrevista”.

É com enorme prazer que trago um dos jovens jornalistas mais talentosos que pude conhecer até o momento. Dono dos blogs “Córner do Leão” e “Política Midiática”, Gabriel Leão, de 26 anos, se formou no ano de 2009, pela universidade Mackenzie. Atualmente, ele trabalha como freelancer e faz mestrado em Comunicação na Cásper Líbero.

Conheci seu trabalho através do blog do “Córner”, pois sou um apreciador do boxe. São textos fantásticos, com o boxe em foco, o que, infelizmente, ainda é raro no Brasil.

Cabe a nós futuros jornalistas, acabar com a centralização que a mídia brasileira faz no futebol e é este um dos grandes motivos que procurei o Gabriel para esta entrevista. Espero que gostem.

J.E.C. - Como e quando o boxe entrou em sua vida?
Gabriel - Entrou muito cedo, lembro de assistir as rodadas de boxe na TV Globo com meu avô no programa “Boxe Internacional”. Gostava das lutas de Mike Tyson, Evander Holyfield e Julio César Chávez. Era fim de anos 80 e início da década de 1990. Eu tinha por volta de 5 ou 6 anos.

Meu avô falava muito de Joe Louis, Muhammad Ali e Éder Jofre, os pugilistas favoritos dele. E tinha também os filmes do Rocky Balboa que eu assistia muito e torcia pelo Apollo. A morte dele foi muito marcante na minha memória cinéfila. Eu torcia pelo Apollo como se fosse uma pessoa real, ele é aquela mistura de James Brown com Capitão América, escutava os discos do primeiro quando pequeno e lia os gibis do outro, então, sempre gostei mais dele do que do próprio Rocky.

J.E.C. - Quando se fala de uma experiência marcante com o boxe em sua vida, o que lhe vem à memória?
Gabriel - Saber que consegui ajudar alguns pugilistas fora do meu blog. Alguns conseguiram visibilidade e até mesmo trabalho como instrutor de boxe. É gratificante quando alguém me elogia pessoalmente pelo trabalho e também quando apontam aspectos negativos nele. O jornalista nunca é a estrela que na verdade é a história, a matéria, o personagem retratado...

J.E.C. - Dos que você pôde ver/tem visto em atividade, qual o pugilista que mais lhe agrada ver em ação? E dentre os históricos, os quais você não pôde ver em atividade?
Gabriel - No nível nacional gosto de ver Pedro Otas e Jackson Jr. Ambos tem um estilo pegador e batem pesado, sendo que até pouco era possível assisti-los nas rodadas do Baby Barioni em São Paulo, sem custo – agora vão atrás de chances mais rentáveis, afinal merecem –.

No internacional eu gosto do Pacquiao. Sinto falta de pugilistas com boa esquiva e sistema defensivo. Não vemos mais pêndulos e esquivas, salvo exceções. Os boxeadores parecem sacos de pancada humanos.

Dos históricos são quatro, Evander Holyfield, Mike Tyson, Muhammad Ali e Éder Jofre. Tyson pela impetuosidade, Muhammad pela inteligência, resistência e bailado, Holyfield pela perseverança e Éder por saber dosar força com técnica e força de vontade.

J.E.C. - O charme do boxe no século passado (especialmente em seu início) se perdeu?
Gabriel - Sim, principalmente em nosso país. O boxe foi relegado a um palco muito menor do que teve nos tempos áureos dos Zumbano-Jofres. No mesmo dia que tinha apresentação de Grande Otelo no Cassino da Urca também tinha uma luta de algum grande talento dos ringues. Hoje nas reuniões de boxe vemos sempre os mesmos rostos e a maioria são de atletas. Perdeu também o apelo de entretenimento.

Fora do país tem se mantido como uma força, apesar dos Klitschkos e David Haye terem algum carisma não se comparam com Tyson nesse quesito ou até mesmo a Lennox Lewis e Evander Holyfield e essa categoria que puxa o esporte. Os pesados são o carro abre-alas.

J.E.C. - A larga utilização do boxe em simulacros (extensa lista de filmes, por exemplo) chega a ser algo prejudicial?
Gabriel - É produtivo, mas só o filme não basta. Quando saiu Menina de Ouro, houve aumento de procura de pugilismo por mulheres nas Academias, mas quando fruto se vê disso hoje além de terem cuidado do corpo?

As pugilistas que fizeram carreira já estavam ali antes do filme e apareceram na TV, em muitos casos como atrações excêntricas nas quais se fala mais de sua aparência do que potencial, tanto que aquelas que são, no português claro, feias pouco apareciam.

Mas no processo geral é produtivo o uso do cinema, porque serve para mostrar aspectos bons do esporte e valores que são transmitidos por técnicos e atletas. Apesar que deve ser lembrado que o que se encontra na tela de cinema é um retrato e não a realidade visto por um ângulo assim como o livro, o telejornal e outros produtos de mídia.

J.E.C. - O fim da carreira de Muhammad Ali foi um marco de transição do boxe mundial? Se sim, foi para melhor ou para pior, em sua opinião?
Gabriel - Foi o fim de uma era. Vimos a diferença entre um deus e um herói. O boxe tem muitos elementos de mitologia, e Muhammad Ali se tornou um mito tanto que é um personagem da História e não apenas um atleta, foi indicado ao Nobel da Paz em 2007 e tem seu trabalho pelos direitos humanos reconhecidos por líderes mundiais de diversas correntes ideológicas.

No mito de Muhammad Ali, o fim da carreira foi a morte do herói, que conforme o mitólogo Joseph Campbell, o herói morre para renascer em outro momento. E Muhammad Ali tem esse “renascimento” quando acende a tocha olímpica em 1996, e vemos que apesar das limitações ele continua com sua mensagem de paz e superação.

Nos ringues isso foi sentido mais por Larry Holmes, que apesar de excelente quadro, se viu na sombra de um mito e, portanto, foi castigado por isso. Com Tyson e Julio César Chávez o boxe voltou a ser um dos principais esportes nas grades televisivas, mas nenhum se compara a Ali.

Ali sabe mais de marketing e sociologia que muitos Doutores em Comunicação. É, de certa forma, um autodidata. Sua queda criou um vácuo, mas outros heróis surgiram. Na mitologia grega os principais heróis são Perseu e Hércules, mas existe lugar para Teseu e outros. Falta ao boxe achar seus outros que vão além de Pacquiao e Mayweather Jr.

J.E.C. - Quem você considera o melhor pugilista da atualidade?
Gabriel - Pacquiao, é o mais completo.

J.E.C. - Em que patamar se encontra o boxe brasileiro? Popó foi o último grande lutador de destaque no país?
Gabriel - Cito (Vlademir Pereira) "Sertão" também entre os grandes, este último não conseguiu mais por circunstâncias. Conseguir um cinturão de uma liga de ponta o coloca entre os grandes do Brasil.

Atualmente o nosso forte é o boxe olímpico. Vemos os resultados nos frutos colhidos pelas seleções masculina e feminina (principalmente) e pelo menino David Lourenço. No profissional, infelizmente empresários comparáveis ao personagem Odorico Paraguaçu de O Bem Amado podam talentos produtivos e os servem como prato de entrada em rodadas estrangeiras.

As condições dos eventos deixam a desejar e a falta de patrocínio também piora o panorama gerando um ciclo vicioso.

J.E.C. - Quais as perspectivas para o futuro do esporte no país? Você enxerga uma tendência de crescimentos dos esportes especializados até 2016?
Gabriel - Por política creio que haverá esse crescimento, se bem que a CBBoxe já vem trabalhando antes do anuncio dos Jogos Olímpicos e esse crescimento é saudável, pois não se liga em politicagem.

Disputas desse calibre servem pra mostrar o potencial de nações em poderem investir em Esportes e não em áreas mais necessárias como Educação e Saúde. Se um país despende de recursos para os atletas é porque tem força e os políticos vão querer mostrar a bala que o Brasil tem.

O presidente Lula tirou uma foto com David Lourenço, isso mostra o apelo político e de imagem que atletas tem para se tornar heróis e como líderes políticos se aproveitam deles.

J.E.C. - Pacquiao ou Mayweather?!
Gabriel - Pacquiao por ser mais ético. Até o momento se apresenta como um herói, ou seja, alguém que aceita se sacrificar pelo bem de seu povo e assume o fardo de ser deputado. Isso enobrece sua biografia.

2 comentários:

Gabriel Leão disse...

Muito obrigado pelo espaço.
O blog de vcs é plural e contribui muito para o jornalismo esportivo.

24 de outubro de 2010 às 14:14
Anônimo disse...

Parabéns a vocês pelo lançamento de Jornalheiros F.C.é sempre muito bom poder contar com opiniões diferentes e novos espaços para a divulgação do esporte. Parabéns também por começar com o pé direito com a entrevista com o Gabriel Leão,jornalista incansável na divulgação do boxe no Brasil.

Rebecca Santos

12 de janeiro de 2011 às 11:50

Postar um comentário

 
Jornalheiros E. C. | by TNB ©2010